sábado, 20 de fevereiro de 2010

Placitum



"Atuando, deixamos de lado – Não suporto, deveras, toda a moral que diz: “Não faças isso, não faças aquilo! Renuncia! Domina-te!...”. No entanto, aprecio a moral que me leva a fazer uma coisa e a refazê-la, a pensar nela de manhã à noite, a sonhar com ela durante a noite, e a não ter jamais outra preocupação que não seja fazê-la bem, tão bem quando somente eu posso entre todos os homens. A viver assim despojamo-nos, uma a uma, de todas as preocupações que não têm nada a ver com esta vida: vê-se sem ódio nem repugnância desaparecer hoje isto, amanhã aquilo, como folhas amarelas que o menor sopro solta da árvore; ou mesmo nem sequer se dá por isso, de tal modo o objetivo absorve, de tal modo o olhar se obstina em ver para diante, não se desviando nunca, nem para a direita nem para a esquerda, nem para cima nem para baixo. “É a nossa atividade que deve determinar o que deixamos de lado; e atuando, deixamos”, eis o que eu gosto, eis o meu próprio placitum (princípio)! Mas não tenho intenção de buscar com os olhos abertos o meu empobrecimento, não aprecio essas virtudes negativas que têm por essência a negação e a renúncia de si".

Nietzsche, em A Gaia Ciência.


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