sábado, 7 de novembro de 2009

É preciso ser louco?


"Mas (todas as igrejas o sabem) é preciso ser louco para querer fugir do Jardim do Éden (ou simplesmente para duvidar de que se se encontra lá) – daí os hospitais psiquiátricos especializados".

Do texto Delimitações, Inversões, Deslocamentos, de Michel Pêcheux.

É preciso ser louco


Mordechaï - Schlomo, por que você é o louco?

Schlomo - Por acaso. Eu queria ser rabino, mas o lugar já tinha sido pego. Como faltava um louco, eu disse a mim mesmo: “Seja o louco! Senão eles é que se tornarão". Eu sou louco no lugar deles.

Mordechaï
E você não se sente um pouco só?

SchlomoAh, não! Loucos é que não faltam!

MordechaïNão, queria dizer... uma mulher... Por que você nunca teve uma mulher, crianças, um lar?

SchlomoAh, não! Eu não sou louco! Eu os teria amado demais, eu teria morrido de amor... ou me tornado louco! Não! Não!


Do filme Train de Vie, de Radu Mihaileanu.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Fronteira injustificável


O que adveio de fato foi a imagem do socialismo localizado, contido em um “outro mundo”, pelo mundo capitalista, quando não dentro dele. A URSS, e depois o “campo socialista”, tornavam assim o lugar da Utopia realizada, a ilha experimental sitiada e defendida como uma fortaleza, onde o milagre do socialismo estava a se operar: o alhures realizado tornava a forma do “realizado alhures".

Do texto Delimitações, Inversões, Deslocamentos, de Michel Pêcheux.

















Fronteiras são inevitáveis. Isso pode ser visto como algo positivo, como lugar da diferença, da constituição de outros sentidos possíveis. Mas muitas fronteiras (visíveis ou não) são injustificáveis e poderiam ser evitadas. A meu ver, a construção de um muro para isolar uma forma de Estado de outra e conter fugas é injustificável. Significa a própria negação do Socialismo. Para mim, a queda do muro não significa necessariamente uma rejeição ao Socialismo, mas uma inconformidade diante da privação de direitos pré-existentes.


domingo, 1 de novembro de 2009

Imoral


Há um olhar que sabe discernir o certo do errado e o errado do certo.
Há um olhar que enxerga quando a obediência significa desrespeito e a desobediência representa respeito.
Há um olhar que reconhece os curtos caminhos longos e os longos caminhos curtos.
Há um olhar que desnuda, que não hesita em afirmar que existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade.
Este olhar é o da alma.

Nilton Bonder


Se eu tiver uma alma, ela só pode ser metáfora.
Se ela tiver um olhar, ele só pode ser imoral.
Mas, talvez essa metáfora imoral não saiba tanto.
No entanto, ela sabe que é seu dever lutar para e pelo saber.
Justamente o saber, essa outra metáfora tão inevitavelmente opaca.

Tento
imoralmente
saber
olhar

(des)acertar
(des)obedecer
(des)caminhar as distâncias
(des)nudar sentimentos

viver
amar
...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Versões de mim


"O que há são versões"

Eni Orlandi


que versões de mim
não contam quem sou
eu me conto em versões
sem jamais saber quais
elas contam o que é desejo
que está em mim
e que também não vejo



domingo, 11 de outubro de 2009

Desperdício




acho um desperdício

não me desperdiçar
em cores




então me desperdiço
coloridamente
para mim


Palavra e silêncio



"Tudo não pode ser dito"

Jean-Claude Milner

tudo não pode ser dito
mas digo tudo que posso
porque penso que devo
o que devo, não sei
mas não sei ser indelicada
não sendo assim, sou palavra
em palavra, meu silêncio é coragem



sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Trois temps...


Le passé c'est le passé
je le garde avec tendresse.
Maintenant, je repars au zero.
Je vis le present, mon present.
Et le futur... c'est un mystère !
Ah, j'adore des mystères !

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Meu aniversário!!!


Hoje, sinto saudades do meu irmão, dos meus amigos de longe e dos meus amigos que já partiram. Sinto essa malegria que canta Manu Chao. É mais alegria.



Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a dios
Eso es lo que siento yo en este instante fecundo....

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Mi paso retrocedido cuando el de usted es avance
El arca de las alianzas ha penetrado en mi nido
Con todo su colorido se ha paseado por mis venas
Y hasta la dura cadena con que nos ata el destino
Es como un diamante fino que alumbra mi alma serena.

Se va enredando, enredando...

Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento
Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente de rencores y violencias
Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes.

Se va enredando, enredando...

El amor es torbellino de pureza original
Hasta el feroz animal susurra su dulce trino
Detiene a los peregrinos, libera a los prisioneros,
El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño
Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero.

Se va enredando, enredando...

De par en par la ventana se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto como una tibia mañana
Al son de su bella diana hizo brotar el jazmín
Volando cual serafín al cielo le puso aretes
Mis años en diecisiete los convirtió el querubín.

Se va enredando, enredando...


Quero ser responsável apenas por aquilo que me tocar. Apreciar detalhes insignificantes do dia-a-dia. Soprar uma flor morta e ver voarem suas sementes. Deixar a imaginação voar com elas. Ver a arte nas coisas grandes. Ver a arte nas coisas pequenininhas. Escrever, ler, viajar, cantar, dançar, sonhar, desejar, amar. Interpretar. As palavras, a vida e tudo ao meu redor.

domingo, 4 de outubro de 2009

Algumas utopias...





Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a presença distante das estrelas!

Das utopias - Mario Quintana


Quero morar em Paris
essa cidade
que se dá ao direito de realizar
grandiosamente
a cada construção
a cada espaço aberto
a cada canto escondido
e beco minúsculo
a metáfora da beleza.

Quero tentar
dolorosamente
amar menos Paris
ao ver como ela também constrói violências.

Quero tentar
apaixonadamente
aprender a amar os fios de alta tensão
das nossas cidades.

Quero continuar acreditando
que as pessoas não precisam do mínimo.
Pão-e-circo não deveria ser luxo.

Quero dizer à minha cidade,
que destruiu o seu teatro:
A arte nos faz humanos.

Quero continuar a sonhar que um dia
os chafarizes de Campinas funcionarão novamente.
Só porque são lindos.
Coisas lindas não podem também salvar uma vida?
Não acredito que somente hospitais e igrejas salvam vidas.
Música, poesia, sorrisos e chafarizes também podem salvar vidas.

Como era lindo quando o chafariz da minha universidade vivia!
Ele foi construído na praça central
no coeur
como símbolo da fonte do saber.
Que sentido tem o saber hoje, que não cuida da sua metáfora?

Amanhã também é o aniversário da minha universidade.
Quem sabe no próximo ano eu passe por lá e veja o meu chafariz.


Lembrando novamente Mário Quintana:

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.



sábado, 12 de setembro de 2009

Eu, que me desconheço

.
Preciso ouvir uma música silenciosa
e solitária
há palavras demais em mim
Quero uma ou outra palavra formosa
e ordinária
como flores vadias de nenhum jardim

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Un petit coin de politiquement incorrecte...


La cigarette est le parfait exemple d’un parfait plaisir. C’est une chose exquise et qui nous laisse inassouvis.

Oscar Wilde

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eu sou brega!!!


Quando o assunto é música, partindo das classificações pré-existentes sobre o que é “bom” e o que é “ruim”, é considerável a minha inclinação por músicas que costumam ser localizadas na prateleira do “ruim” e chamadas de brega. Depois de alguma crise existencial, passei a valorizar mais meu gosto por várias destas músicas classificadas sob este nome.
Wando, por exemplo: podem falar o que for, mas é impossível deixar de reconhecer a beleza poética de “Moça”. O verso “Moça, moça eu te prometo, eu me viro do avesso só pra te abraçar...”, pra mim, é perfeito. Exceto a parte “moça, sei que já não és pura...”, todo o restante da letra é lindo de doer. Se bem que os versos sobre a pureza da moça também têm sua graça: a música não seria a mesma sem eles...


Outro exemplo é ABBA. Na verdade, não sei se as músicas deste grupo são classificadas como brega. Não sou lá muito fã do grupo e nem me imagino ouvindo um disco inteiro dele. Mas eu poderia ouvir uma ou outra música muitas vezes seguidas. Uma delas é “I have a dream”. O engraçado é que, definitivamente, não acredito em anjos, mas adoro a parte que começa com “I believe in angels...”!!! Bom, não sei como explicar esse paradoxo, mas também não me importo com isto.
Ah, a letra e a melodia são maravilhosas! Vivo ouvindo essa música nos momentos em que estou muito animada, deixando extravasar toda breguice a que tenho direito:


Metáfora fantástica e fascinante


O post anterior me fez interpretar que os anjos são metáforas de nós mesmos. Temos a necessidade de acreditar nos outros e precisamos que acreditem em nós. Precisamos ter quem cuide de nós e gostamos de cuidar de quem amamos.
Ao mesmo tempo, não conseguimos tudo o que queremos e somos imperfeitos. Então nos recriamos com asas, produzindo uma metáfora fantástica, sob a forma de um outro. Um outro fascinante, que não falha e que está lá quando falhamos.
Isso me fez lembrar da cena da trapezista em “Asas do Desejo”:

quinta-feira, 2 de julho de 2009

a hora da poesia


para compor desejos em versos
preciso deixar que as palavras tomem conta do corpo
mergulhar no mar revoltoso que elas habitam
nadar profundamente entre elas
e nelas me afogar
a poesia acontece na hora da morte
e a morte vai embora contrariada

histórias da língua brasileira



“Minha vó contava uma história quandu a família tava reunida, sobri um tiu... achu qui é tiu avô, num sei... bom, essi tiu chamava Zuardo, mais u nomi deli era pá sê Osvaldo! “. É qui quandu fôru registrá eli, disséru “Osvardo” tão rápidu, cum um ô qui nem dava pra ouví e cum um érri nu lugar di éli, qui u iscrivão intendeu Zuardo! I intão ficou assim...”
Ana Cláudia, 04 de maio de 1999

“Pois é. U purtuguêis é muito fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im portuguêis, é só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a minha lingua é u purtuguêis. Quem soubé falá, sabi iscrevê.”
Jô Soares, revista veja, 28 de novembro de 1990


Já faz 10 anos... Em 1999, durante o meu primeiro ano de graduação em lingüística, fiz um trabalho para a disciplina Introdução aos Estudos da Linguagem e o publiquei alguns anos depois, na página de publicações dos alunos do IEL/Unicamp (Ferreira, 2003).

Esse trabalho, não sei como, parece ter caído no gosto do público. Quando o meu e-mail @iel.unicamp ainda funcionava, eram freqüentes as mensagens de pessoas que queriam saber mais sobre o assunto.

Sempre fiquei um pouco apreensiva ao responder, pois esse texto é apenas um trabalho de quem ainda estava engatinhando nos estudos lingüísticos. Ao mesmo tempo, depois que foi publicado, eu já estava em outro lugar teórico, o que considera a língua brasileira. Essa língua fluida e real, que tem uma espessura histórica própria. Essa língua que eu falo, que a família do meu tio-avô Zuardo fala. Essa língua do Brasil.

Para quem se interessar pelo tema, sugiro a leitura do verbete 'língua brasileira' no site da Enciclopédia das Línguas no Brasil (http://www.labeurb.unicamp.br/elb/portugues/lingua_brasileira.html) e recomendo a obra Língua Brasileira e Outras Histórias (Orlandi, 2009), que reúne um conjunto de textos sobre língua brasileira, língua portuguesa, estudos lingüísticos e gramaticais e o processo de descolonização lingüística.



Referências Bibliográficas

Ferreira, Ana Cláudia Fernandes (2003) "As Variações da Língua". Disponível em:

Orlandi, Eni. "Língua Brasileira". Enciclopédia das Línguas no Brasil - ELB. Disponível em: http://www.labeurb.unicamp.br/elb/portugues/lingua_brasileira.html
_____. (2009) Língua Brasileira e Outras Histórias. Discurso sobre a língua e ensino no Brasil. Campinas: RG Editores.

sábado, 20 de junho de 2009

Goethe...

“Se uma luz atrair você, siga-a. Se ela conduzir você a um pântano, dele sairá. Porém, se não a seguir, terá sempre na vida a impressão de que aquela era a sua estrela”.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Rien n'est evident

fazer “tudo certo” pode dar errado
fazer “tudo errado” pode dar certo

terça-feira, 16 de junho de 2009

Radio Muda...


Bons tempos aqueles da radio muda na década de 90... Lembro do programa comandado pelo Toni e pelo Fernandón (onde andam vocês???), que tinha o singelo título "Acorda Filha da Putaaaaa!". O programa fazia todo mundo acordar na marra! A programação misturava rock, punk rock e música caipira...



Há pouco tempo a radio ficou muda. Foi fechada pela Unicamp. Uma pena...

domingo, 3 de maio de 2009

Perguntinha...

respondendo a perguntinha "quem sou eu" do orkut em momento crítico de revisão da tese:

uma louca mergulhada em palavras envolventes
às vezes falta o ar
às vezes o fôlego surpreende

uma palavra enlouquecida em mergulhos surpreendentes
às vezes falta o envolvimento
às vezes o ar suspende

um envolvimento supreendente em palavras mergulhadas
às vezes falta o enlouquecido
às vezes a palavra se rende

... isso só pode ser alguma síndrome de anagrama que acomete os lingüistas de vez em quando...


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pintinhas e estrelas


tatuagens naturais
de constelações de estrelas
o escorpião visível no peito
o cruzeiro do sul pertinho
a estrela da manhã escondida
e outras pintinhas sem nome
brilham na curva de sonhos
e de poeiras efêmeras

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A tese, as palavras, o novo, o vento.


Outras vezes ouço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Psoa - A espantosa realidade das coisas


Que minhas palavras voem nesta última semana, neste último prazo, nestas últimas madrugadas de revisão de tese.

Depois tudo vai mudar. Vou de encontro ao novo. Ah, quero o novo. Vou me atirar ao vento e ele que me leve para onde quiser.


a música
tal como a palavra
é vento
ela me leva
e vou
com ela
nela
sou uma folha

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A gente vive


a gente vive o tempo
que é também espaço
e pausa

a gente vive os encontros
que são também palavras
e silêncios

a gente vive o real
que é também sonho
e cores

espaço, pausa
palavras, silêncios
sonho, cores

a gente vive a vida
tão longe e tão perto
intensamente, a vida


Machado de Assis...


"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar".

segunda-feira, 23 de março de 2009

Je ne regrette rien


O avião acaba de pousar no aeroporto St. Exupéry. Ah, estou em Lyon novamente. Voilà, parece que cheguei em casa. Lágrimas de emoção? Não, não vieram. O que sinto é uma sensação de lar, uma sensação agradável e engraçada.

Estou de volta. Ah, vou caminhar pelos lugares onde já estive como se nunca tivesse ido embora, como se essa cidade fosse logo ali, pertinho da minha, como se eu pudesse visitá-la sempre, como se fosse rotina, como foi.

Compro o meu ticket na bilheteria da navette inteiramente satisfeita: “bonjour, je veux bien un ticket allez simple, si vous plait”. Allez simple... Tão simples, tão diferente da primeira vez! Ah, maintentant je parle français... pas très bien en fait, mais ça va.

Na navette, vou apreciando a paisagem e pensando na alegria de encontrar a Carol morando aqui, onde já morei. Agora Lyon é a casa dela também. Ai, vou atrasar! Se bem conheço a Carolina, ela já deve estar preocupada. Ah, e os amigos que vou rever novamente! Nem acredito...

Melhor ir treinando o francês... Já esqueci um monte de palavras do meu escasso vocabulário...

Ah, que bom, né? Não sou mais chorona! Como é bom me sentir como “gente civilizada” num momento como este! E ainda consigo ser irônica, que beleza...

E assim, esperando ver logo a Gare Part-Dieu, vou curtindo esse momento de felicidade sem grandes deslumbramentos.

Até que... na rádio da navette, começa a tocar uma música :

Non, rien de rien!
Non, je ne regrette rien!




Assisti La Môme quando morava na França...


É...

Os pensamentos correm agora desordenadamente, sem que eu consiga controlá-los... Tantas coisas que vivi nesta cidade passam, em instantes, pela minha cabeça. Um momento, um lugar, uma história, uma canção, várias canções... Todas essas coisas conseguem fazer com que, em mim, uma emoção civilizada se transforme em lágrimas...

Silenciosamente, tête vers la fenêtre, olhando fixamente para fora, fugindo dos olhares dos passageiros (inquisidores, constrangidos, condoídos? nem quero ver!), estou chorando...

Algumas convicções duram tanto! “Não sou mais chorona!”... Essa virou poeira em segundos... Mas não era isso que eu queria? No fundo, era. Ah, que se dane! Meu coração é selvagem! (tenho que ler Clarice Lispector de verdade...)

Não pense, leitor, no entanto, que choro um rio de Piracibaba aqui na navette. Menos, né... É um chorinho silencioso, como já disse. Uma garoinha... Un moment inoubliabe no retorno à minha ville querida.


essa viagem rendeu outras viagens de sonho...
et je ne regrette rien!!!

; )


Rapunzel, Joana D’Arc e Jan(i)e Jones


Sempre quis ter os cabelos longos. Ah, se eu tivesse as compridas madeixas de fogo daquela menina de Cem anos de Solidão...

Ainda moleca, invejava os esvoaçantes cabelos das heroínas das gravuras dos contos de fada. Como queria que a cabeleira chegasse aos pés: "Rapunzel! Jogue as tranças!"...

Gostava de desenhar mil versões de princesas, sempre com os cabelos enormes que desejava ter.

visual princesa encantada da floresta...



Anos depois, numa onda meio punk, meus desenhos começaram a incluir personagens de cabelos curtinhos também.



visual punk rock...


Por duas ou três vezes consegui deixar as madeixas chegarem até quase a cintura. Um dia, como num surto, decidi passar de Rapunzel à Joana D’arc. Na verdade, nunca levei o movimento punk muito a sério, só tinha vontade de ser louca, então descontei no cabeleireiro.

Out of my mind on Saturday night
1970 rolling in sight…




Choque coletivo da família e dos amigos. Com exceção de um inconformado ou outro, a maioria aprovou o novo visual.

Mas ainda hoje, tenho vontade de voltar ser Rapunzel... Ou então imitar a Natalie Portman no papel da stripper Alice (ou Jane Jones!), com suas perucas de estilos e cores variadas. Seria divertido poder mudar o visual conforme der na telha.


Lingüista de fachada e stripper descabelada? Quem sabe em breve, quando meus recursos forem menos escassos. Por enquanto, sou apenas uma escritora desvairada mesmo...

(Jane Jones é quase Janie Jones, como na música do The Clash. Não consigo desvincular um nome de outro).