sexta-feira, 3 de julho de 2009

Eu sou brega!!!


Quando o assunto é música, partindo das classificações pré-existentes sobre o que é “bom” e o que é “ruim”, é considerável a minha inclinação por músicas que costumam ser localizadas na prateleira do “ruim” e chamadas de brega. Depois de alguma crise existencial, passei a valorizar mais meu gosto por várias destas músicas classificadas sob este nome.
Wando, por exemplo: podem falar o que for, mas é impossível deixar de reconhecer a beleza poética de “Moça”. O verso “Moça, moça eu te prometo, eu me viro do avesso só pra te abraçar...”, pra mim, é perfeito. Exceto a parte “moça, sei que já não és pura...”, todo o restante da letra é lindo de doer. Se bem que os versos sobre a pureza da moça também têm sua graça: a música não seria a mesma sem eles...


Outro exemplo é ABBA. Na verdade, não sei se as músicas deste grupo são classificadas como brega. Não sou lá muito fã do grupo e nem me imagino ouvindo um disco inteiro dele. Mas eu poderia ouvir uma ou outra música muitas vezes seguidas. Uma delas é “I have a dream”. O engraçado é que, definitivamente, não acredito em anjos, mas adoro a parte que começa com “I believe in angels...”!!! Bom, não sei como explicar esse paradoxo, mas também não me importo com isto.
Ah, a letra e a melodia são maravilhosas! Vivo ouvindo essa música nos momentos em que estou muito animada, deixando extravasar toda breguice a que tenho direito:


Metáfora fantástica e fascinante


O post anterior me fez interpretar que os anjos são metáforas de nós mesmos. Temos a necessidade de acreditar nos outros e precisamos que acreditem em nós. Precisamos ter quem cuide de nós e gostamos de cuidar de quem amamos.
Ao mesmo tempo, não conseguimos tudo o que queremos e somos imperfeitos. Então nos recriamos com asas, produzindo uma metáfora fantástica, sob a forma de um outro. Um outro fascinante, que não falha e que está lá quando falhamos.
Isso me fez lembrar da cena da trapezista em “Asas do Desejo”:

quinta-feira, 2 de julho de 2009

a hora da poesia


para compor desejos em versos
preciso deixar que as palavras tomem conta do corpo
mergulhar no mar revoltoso que elas habitam
nadar profundamente entre elas
e nelas me afogar
a poesia acontece na hora da morte
e a morte vai embora contrariada

histórias da língua brasileira



“Minha vó contava uma história quandu a família tava reunida, sobri um tiu... achu qui é tiu avô, num sei... bom, essi tiu chamava Zuardo, mais u nomi deli era pá sê Osvaldo! “. É qui quandu fôru registrá eli, disséru “Osvardo” tão rápidu, cum um ô qui nem dava pra ouví e cum um érri nu lugar di éli, qui u iscrivão intendeu Zuardo! I intão ficou assim...”
Ana Cláudia, 04 de maio de 1999

“Pois é. U purtuguêis é muito fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im portuguêis, é só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui a minha lingua é u purtuguêis. Quem soubé falá, sabi iscrevê.”
Jô Soares, revista veja, 28 de novembro de 1990


Já faz 10 anos... Em 1999, durante o meu primeiro ano de graduação em lingüística, fiz um trabalho para a disciplina Introdução aos Estudos da Linguagem e o publiquei alguns anos depois, na página de publicações dos alunos do IEL/Unicamp (Ferreira, 2003).

Esse trabalho, não sei como, parece ter caído no gosto do público. Quando o meu e-mail @iel.unicamp ainda funcionava, eram freqüentes as mensagens de pessoas que queriam saber mais sobre o assunto.

Sempre fiquei um pouco apreensiva ao responder, pois esse texto é apenas um trabalho de quem ainda estava engatinhando nos estudos lingüísticos. Ao mesmo tempo, depois que foi publicado, eu já estava em outro lugar teórico, o que considera a língua brasileira. Essa língua fluida e real, que tem uma espessura histórica própria. Essa língua que eu falo, que a família do meu tio-avô Zuardo fala. Essa língua do Brasil.

Para quem se interessar pelo tema, sugiro a leitura do verbete 'língua brasileira' no site da Enciclopédia das Línguas no Brasil (http://www.labeurb.unicamp.br/elb/portugues/lingua_brasileira.html) e recomendo a obra Língua Brasileira e Outras Histórias (Orlandi, 2009), que reúne um conjunto de textos sobre língua brasileira, língua portuguesa, estudos lingüísticos e gramaticais e o processo de descolonização lingüística.



Referências Bibliográficas

Ferreira, Ana Cláudia Fernandes (2003) "As Variações da Língua". Disponível em:

Orlandi, Eni. "Língua Brasileira". Enciclopédia das Línguas no Brasil - ELB. Disponível em: http://www.labeurb.unicamp.br/elb/portugues/lingua_brasileira.html
_____. (2009) Língua Brasileira e Outras Histórias. Discurso sobre a língua e ensino no Brasil. Campinas: RG Editores.