segunda-feira, 23 de março de 2009

Je ne regrette rien


O avião acaba de pousar no aeroporto St. Exupéry. Ah, estou em Lyon novamente. Voilà, parece que cheguei em casa. Lágrimas de emoção? Não, não vieram. O que sinto é uma sensação de lar, uma sensação agradável e engraçada.

Estou de volta. Ah, vou caminhar pelos lugares onde já estive como se nunca tivesse ido embora, como se essa cidade fosse logo ali, pertinho da minha, como se eu pudesse visitá-la sempre, como se fosse rotina, como foi.

Compro o meu ticket na bilheteria da navette inteiramente satisfeita: “bonjour, je veux bien un ticket allez simple, si vous plait”. Allez simple... Tão simples, tão diferente da primeira vez! Ah, maintentant je parle français... pas très bien en fait, mais ça va.

Na navette, vou apreciando a paisagem e pensando na alegria de encontrar a Carol morando aqui, onde já morei. Agora Lyon é a casa dela também. Ai, vou atrasar! Se bem conheço a Carolina, ela já deve estar preocupada. Ah, e os amigos que vou rever novamente! Nem acredito...

Melhor ir treinando o francês... Já esqueci um monte de palavras do meu escasso vocabulário...

Ah, que bom, né? Não sou mais chorona! Como é bom me sentir como “gente civilizada” num momento como este! E ainda consigo ser irônica, que beleza...

E assim, esperando ver logo a Gare Part-Dieu, vou curtindo esse momento de felicidade sem grandes deslumbramentos.

Até que... na rádio da navette, começa a tocar uma música :

Non, rien de rien!
Non, je ne regrette rien!




Assisti La Môme quando morava na França...


É...

Os pensamentos correm agora desordenadamente, sem que eu consiga controlá-los... Tantas coisas que vivi nesta cidade passam, em instantes, pela minha cabeça. Um momento, um lugar, uma história, uma canção, várias canções... Todas essas coisas conseguem fazer com que, em mim, uma emoção civilizada se transforme em lágrimas...

Silenciosamente, tête vers la fenêtre, olhando fixamente para fora, fugindo dos olhares dos passageiros (inquisidores, constrangidos, condoídos? nem quero ver!), estou chorando...

Algumas convicções duram tanto! “Não sou mais chorona!”... Essa virou poeira em segundos... Mas não era isso que eu queria? No fundo, era. Ah, que se dane! Meu coração é selvagem! (tenho que ler Clarice Lispector de verdade...)

Não pense, leitor, no entanto, que choro um rio de Piracibaba aqui na navette. Menos, né... É um chorinho silencioso, como já disse. Uma garoinha... Un moment inoubliabe no retorno à minha ville querida.


essa viagem rendeu outras viagens de sonho...
et je ne regrette rien!!!

; )


Rapunzel, Joana D’Arc e Jan(i)e Jones


Sempre quis ter os cabelos longos. Ah, se eu tivesse as compridas madeixas de fogo daquela menina de Cem anos de Solidão...

Ainda moleca, invejava os esvoaçantes cabelos das heroínas das gravuras dos contos de fada. Como queria que a cabeleira chegasse aos pés: "Rapunzel! Jogue as tranças!"...

Gostava de desenhar mil versões de princesas, sempre com os cabelos enormes que desejava ter.

visual princesa encantada da floresta...



Anos depois, numa onda meio punk, meus desenhos começaram a incluir personagens de cabelos curtinhos também.



visual punk rock...


Por duas ou três vezes consegui deixar as madeixas chegarem até quase a cintura. Um dia, como num surto, decidi passar de Rapunzel à Joana D’arc. Na verdade, nunca levei o movimento punk muito a sério, só tinha vontade de ser louca, então descontei no cabeleireiro.

Out of my mind on Saturday night
1970 rolling in sight…




Choque coletivo da família e dos amigos. Com exceção de um inconformado ou outro, a maioria aprovou o novo visual.

Mas ainda hoje, tenho vontade de voltar ser Rapunzel... Ou então imitar a Natalie Portman no papel da stripper Alice (ou Jane Jones!), com suas perucas de estilos e cores variadas. Seria divertido poder mudar o visual conforme der na telha.


Lingüista de fachada e stripper descabelada? Quem sabe em breve, quando meus recursos forem menos escassos. Por enquanto, sou apenas uma escritora desvairada mesmo...

(Jane Jones é quase Janie Jones, como na música do The Clash. Não consigo desvincular um nome de outro).