quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Meu novo mundo...





Percorro todas as tardes um quarteirão de paredes
nuas.
Nuas e sujas de idade e de ventos.
Vejo muitos rascunhos de pernas de grilos pregados
nas pedras.
As pedras, entretanto, são mais favoráveis a pernas
de moscas do que de grilos.
Pequenos caracóis deixaram suas casas pregadas
nestas pedras
E as suas lesmas saíram por aí á procura de outras
paredes.
Asas misgalhadinhas de borboletas tingem de azul
estas pedras.
Uma espécie de gosto por tais miudezas me paraliza.
Caminho todas as tardes por estes quarteirões
desertos, é certo.
Mas nunca tenho certeza
Se estou percorrendo o quarteirão deserto
Ou algum deserto em mim.

Manoel de Barros - Miudezas


Foi somente depois de voltar de viagem, e um bom tempo depois, que senti falta dos meus óculos. E aí percebi que eles tinham ficado no velho mundo. Ao comentar sobre isso, um amigo respondeu dizendo que são necessários novos olhos para enxergar bem um novo mundo... Esta resposta coube direitinho no momento. Porque todas as vezes que volto do velho mundo, vejo este nosso novo mundo com outros olhos.

A primeira vez que voltei foi muito difícil, por muitos motivos. Mas as outras vezes não. E esta última volta foi uma tranquilidade. Gosto muito de lá, mas gosto cada vez mais daqui...

Que sensação agradável sentir o clima de calor e umidade, ver o céu carregado e escuro, o vento fazendo barulho, a chuva cair pesada, e o sol aparecer novamente!

Que bom andar pelas minhas ruas de paralelepípedos, perceber o mato nascendo ao redor de tudo, e ver uma beleza estranha nos fios de alta tensão...


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